Um olhar penetrante

"Cristo e a mulher adultera" de Nicolas Poussin.

Vale a pena lembrar-se que a morte chegará: a uns, mais cedo, a outros é demorada. No entanto, a morte é certa. "Memento mori" - lembra-te que vais morrer, diz a expressão latina. Refletir sobre esse fato nos ajuda a emendar as veredas tortas da vida. Também nos auxilia a visualizar que a morte é uma amiga que nos pega pela mão, como o pai ao levar a filha-noiva ao altar, assim a morte nos encaminha ao Divino Esposo às núpcias do Cordeiro. Por misericórdia podemos ser salvos, por desgraça podemos ser condenados. Salvação ou perdição. Céu ou inferno. Duas eternidades que nos aguardam. 

Em "Vida de Cristo", Fulton Sheen escreve sobre "Somente o Inocente pode condenar". Nesse capítulo, o  venerável bispo reflete sobre a passagem da mulher pega em adultério e nos toca à condenação - aquela mulher poderia ter morrido em pecado, porém Jesus a salvou.

“Mestre, esta mulher foi pega no ato de adultério”, disseram eles a Jesus. “A lei de Moisés ordena que ela seja apedrejada. O que o senhor diz?” Procuravam apanhá-lo numa armadilha, ao fazê-lo dizer algo que pudessem usar contra ele. Jesus, porém, apenas se inclinou e começou a escrever com o dedo na terra. Eles continuaram a exigir uma resposta, de modo que ele se levantou e disse: “Aquele de vocês que nunca pecou atire a primeira pedra”. Então inclinou-se novamente e voltou a escrever na terra. Quando ouviram isso, foram saindo, um de cada vez, começando pelos mais velhos, até que só restaram Jesus e a mulher no meio da multidão. Então Jesus se levantou de novo e disse à mulher: “Onde estão seus acusadores? Nenhum deles a condenou?”. “Não, Senhor”, respondeu ela. E Jesus disse: “Eu também não a condeno. Vá e não peque mais”. (São João 8, 4-11).

Nesta passagem paira a questão da condenação. Nosso Senhor Salvador poderia desobedecer a lei de Moisés ao absolver a mulher, como, poderia transgredir a lei romana ao condená-la. Seja como fosse, Ele seria tido como o falso misericordioso, ou o revolucionário judeu. Nada disso. Silenciosamente, Ele se inclinou, voltou a escrever e, erguendo-se, olhou para cada homem e mulher que estavam com pedras em suas mãos, a começar pelos mais idosos, e respondeu: "quem não tiver pecado, atire a primeira pedra."
Foi o olhar mais penetrante que antecipava o juízo final. O olhar que separou os bodes. A Verdade, como será no julgamento, adentrava o ser humano e as máscaras caíam. Já não havia vaidade, palavra ou sentimento de autojustificação. 

"Talvez, quanto mais idosos fossem, mais pecados tivessem. O Senhor não os condenou; antes, fez com que condenassem a si mesmos." Diz Fulton Sheen.

Tamanha será a vergonha do pecador não arrependido e que teve chances de mudança durante a vida terrena, que Deus não dirá nada, mas, sendo a Verdade, fugirá com ódio da beatífica presença do Senhor. 
Portanto, ainda há tempo para voltar ao Pai que se apresenta misericordioso. A vida pode ser transformada e renovada pelo Espírito Santo que habita em nós - vamos clama-Lo! Mude, Senhor, os caminhos do meu coração! Amém.



"Que procures Cristo; que encontres Cristo; que ames a Cristo!"

Comentários

Postagens mais visitadas